O PROJETO BIOVINO PRODUZIU MANITOL A PARTIR DE EXCEDENTES DE MOSTO E BORRAS DE VINHO
O que é o manitol?
O manitol é um poliol com seis átomos de carbono que está naturalmente presente em muitos organismos, como bactérias, fungos, algas, líquens e plantas. Existem várias tecnologias para produzir manitol: a) catálise química a pressão e temperatura altas a partir de misturas de glucose e frutose, b) extração de algas castanhas e freixos e c) produção biológica com microrganismos.
As bactérias heterofermentativas do ácido láctico são capazes de transformar frutose, sacarose, inulina e misturas de frutose-glucose e frutose-sacarose em manitol. Algumas espécies típicas que produzem manitol são Leuconostoc mesenteroides, Lactobacillus intermedius e Lactobacillus fermentum. Para produzirem manitol, estas bactérias precisam de um substrato rico em frutose, uma fonte de azoto orgânico e sais minerais. A principal desvantagem desta rota de biotransformação é o elevado custo dos substratos de frutose utilizados.
Para que serve o manitol?
Este poliol tem diversas aplicações como adoçante e estabilizante na indústria alimentar, graças à sua natureza hipocalórica e não-cariogénica, bem como à sua tolerância por pessoas diabéticas. Além disso, o manitol é frequentemente utilizado com fins médicos e farmacêuticos.
O problema dos excedentes de vinho
Segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), em 2018 a produção mundial de vinho atingiu 29200 milhões de litros, com Espanha e Portugal a ocuparem os 3º e 13º lugares no ranking de produtores, respectivamente. Na campanha de 2020, Espanha dedicou 933107 hectares ao vinhedo, produzindo no total cerca de 4.070 milhões de litros de vinho, enquanto que a quantidade gerada de sumo de uva e mosto foi de cerca de 796 milhões de litros (Ministério Espanhol de Agricultura, Pesca e Alimentação). Nessa mesma campanha, Portugal dedicou 192401 hectares ao vinhedo, produzindo 641 milhões de litros de vinho (Instituto da Vinha e do Vinho, IVV). A União Europeia tentou evitar os excedentes de vinho através de regulamentações legais (Regulamento (CE) n° 1493/1999 do Conselho; Regulamento (CE) n° 479/2008 do Conselho), uma vez que provocam graves desequilíbrios comerciais. Este excedente é normalmente controlado através da sua destilação e armazenagem para utilização como vinho de mesa ou sumo de uva.
O uso de mosto para a biossíntese de manitol pode representar uma oportunidade de negócio, já que permite à indústria vitivinícola oferecer um novo produto final (o manitol) e evitar os problemas associados aos excedentes de vinho e mosto.
O que são as borras de vinho?
As borras são um resíduo líquido e viscoso composto por água e materiais decantados durante a fermentação do vinho. Este resíduo possui também uma quantidade importante de leveduras que equivalem a 1,5% do peso da uva processada. Além disso, contêm cerca de 10 g/L de azoto total (NT), e por isso poderiam utilizar-se como fonte de azoto orgânico para diversos processos microbianos.
Produção de manitol a partir de mosto de uva e borras de vinho
A produção de manitol através da conversão de frutose pura ou misturas de frutose:glucose (2:1) por bactérias do ácido láctico pressupõe um custo elevado, atendendo ao custo da frutose. No entanto, o uso de resíduos ou subprodutos açucarados das indústrias alimentares pode reduzir de forma significativa os custos do processo. O mosto de baixa qualidade e o mosto excedente podem ser matérias primas interessantes para a biossíntese de manitol, uma vez que a concentração total de açúcares no mosto é aproximadamente de 180-220 g/L, com proporções de frutose:glucose perto de 1:1.
No projeto Biovino avaliou-se a viabilidade de produzir manitol à escala laboratorial a partir de dois tipos de mosto: mosto tinto (variedade Garnacha) e mosto branco (variedade Verdejo). Demonstrou-se experimentalmente que a bactéria Lactobacillus intermedius precisava apenas da adição de dois nutrientes ao mosto: extracto de levedura (fonte de azoto) e um sal de manganês. Assim, atingiram-se concentrações de manitol de 69 g/L com o mosto tinto e de 80 g/L com o mosto branco em apenas 48 h.
Além disso, para reduzir ainda mais os custos do processo, o extracto de levedura foi substituído por borras de vinho tinto e borras de vinho branco. As borras de vinho tinto produziram um melhor resultado e conduziram à obtenção de concentrações de manitol de 59 g/L com o mosto tinto e 66 g/L com o mosto branco, em 144 h.
Conclusões
As concentrações de manitol obtidas a partir dos mostos no projeto Biovino são muito promissoras, uma vez que são superiores aos valores observados utilizando outros subprodutos agroalimentares. Além disso, a utilização de borras como fonte de azoto para o processo microbiano pode permitir uma poupança importante no custo dos reagentes. Desta forma, tanto o mosto excedente como as borras de vinho podem ser matérias-primas interessantes para a obtenção de manitol, o que permitiria às cooperativas vitivinícolas e às bodegas ampliar o seu nicho de mercado. No entanto, a implantação de sistemas de biorrefinaria à escala industrial para a produção de manitol com o processo descrito requer ainda a otimização e melhoramento das condições do processo.
Mais informação
Link para o artigo na revista: https://doi.org/10.1016/j.lwt.2021.112083
Link para o repositório de acesso aberto (prepublicação): https://doi.org/10.5281/zenodo.5091840
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these cookies, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may have an effect on your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.